Marechal Deodoro: sinônimo de interação entre natureza e a arte. O município mostra exemplos do que há de mais belo no artesanato, com as rendas como o labirinto e o filé, unindo a beleza das cores à suavidade dos fios.

A cada passo que se dá em Marechal Deodoro pode-se apreciar algum tipo de artesanato feito pelos moradores locais. Ora vê-se uma senhora sentada à porta de casa manuseando a agulha e a linha para produzir uma blusa de filé, ora encontra-se um artesão moldando tiras de palha para fazer uma cesta. Faz parte da tradição de cada família: os filhos aprendem com os pais, as filhas com as mães, tias ou avós. Definitivamente o artesanato está enraizado na cultura de cada família, tal como a música.

Para o visitante que chega e se encanta com as artes deodorenses, nada melhor do que visitar o Espaço Cultural Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul. Um prédio bonito, que dantes abrigava o armazém do arroz, foi recentemente restaurado e transformado num pólo, onde 183 artesãos dividem oito oficinas e vendem diretamente ao turista peças confeccionadas nos pontos tipicamente deodorenses, como filé, bilro, singeleza, labirinto, richeliê, além de ponto cruz, tricô, crochê. Outras peças ainda são feitas a partir do fuxico, mosaico e do trançado das titaras.

Nas mãos de habilidosas rendeiras, o bordado transforma-se num dos mais importantes trabalhos para a economia de Marechal Deodoro. E, percebendo a projeção que o artesanato deodorense alcança em todo o país e no exterior – e a importância que o mesmo representa para a cultura local – a administração municipal visa desenvolver iniciativas para reativar as antigas tradições artesanais. No próprio Centro Cultural, algumas ações já são viabilizadas neste propósito.

E, como prova da força do trabalho artesanal de Marechal Deodoro, as rendas confeccionadas no local ultrapassaram as fronteiras do país, com a beleza das cores e suavidade dos fios. Muitos dos artigos produzidos no município já podem ser encontradas em Miami e países europeus. É Marechal mostrando as cores de Alagoas para o mundo! Mas a produção artesanal deodorense não se limita aos fios coloridos das rendas. Embora ainda em pequena escala, o município conta com uma produção artesanal de instrumentos musicais, bonecos articulados de madeira e utensílios de pesca em geral. O fabrico de embarcações para pesca é facilitado pela boa adequação da jaqueira e mangueira, abundantes em todo o centro e arredores da cidade.

Ainda em Marechal Deodoro, mais especificamente no povoado de Barra Nova, o visitante pode encontrar um tipo de artesanato diferenciado, produzido em porcelana que mescla diferentes técnicas de pintura em vidro, e também na fundição de pedaços de vidro para a elaboração de painéis, vitrais, na ilustração de paredes e na confecção de objetos decorativos, conferindo também extrema beleza a objetos de uso diário como xícaras, pratos e tigelas.

Labirinto

Trabalho artesanal que consiste em desfiar um tecido esticado num tear, depois risca-se o desenho que dará forma à renda e começa-se então o bordado. Como o tempo de execução pode ser bastante demorado, algumas famílias dividem as etapas de cada peça de Labirinto.

Filé

Também executado num tear, o Filé inicia-se armando uma malha quadriculada, ao fundo, com um tecido que assemelha-se a uma rede de pesca. Com uso de linha de cor branca, compõe-se desenhos em barras estampadas.

Cultura de Marechal Deodoro

O município de Marechal Deodoro tem na cultura uma das suas mais fortes características. Das ruas da cidade soam acordes musicais como se cada pedra contasse um pouco de história, embalada pelo som das suas filarmônicas. As pessoas nascidas nesta terra têm nas mãos algo de delicado, próprio para o artesanato, para as rendas tão famosas.

É de Marechal Deodoro o famoso Nélson da Rabeca, músico virtuose que decidiu enveredar pela arte aos 60 anos de idade, depois de construir o seu próprio instrumento. Hoje, o ex-cortador de cana-de-açúcar viaja pelo País inteiro levando consigo a esposa, dona Benedita, sua rabeca e os ritmos que aprendeu na sua terra natal: baião, xote, xaxado e a marcha.

Mas a tradição artística do município não fica por aí. Andar pelas ruas do centro da cidade ou pelos povoados de Marechal Deodoro implica estar perto de exemplares típicos do artesanato alagoano, das rendas delicadas feitas pelas artesãs locais. Pontos como o filé e o labirinto são ensinados de mãe para filhas. E, os filhos, aprendem com os pais a arte de pescar ou o jeito ágil de moldar estátuas em argila ou madeira.

As tradições populares também são bem resguardadas em Marechal. Grupos folclóricos fazem questão de preservar folguedos como o pastoril, o coco-de-roda ou o guerreiro, a fim de mostrar aos visitantes e ensinar às futuras gerações a essência do povo das Alagoas.

A religiosidade é outro traço marcante do município. Além das suas belíssimas igrejas centenárias, as festas em honra de santos são um costume preservado ao longo dos tempos. A festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição, por exemplo, tem tanto de religioso, quanto de teatral. Um espetáculo que leva, sem dúvida, os espectadores a uma viagem através dos séculos.

Respirar os ares do século XVII e XVIII pelas ruas estreitas e antigas da cidade é, sobretudo, penetrar nos cenários de importantes acontecimentos históricos. Entrar no clã dos Fonseca, a casa da família de Marechal Deodoro; no belíssimo Museu de Arte Sacra de Alagoas, com peças raríssimas e de grande valor para o patrimônio sacro brasileiro. Os casarões e as famosas igrejas completam uma preciosa arquitetura que pode ser apreciada na cidade que mereceu ser a primeira capital do Estado.

Folclore: Mais uma das manifestações populares preservadas em Marechal Deodoro

As tradições populares são bastante cultuadas no município de Marechal Deodoro. Os folguedos, as bandas de pífanos e filarmônicas, a literatura de cordel, entre outros, dão vida renovada aos costumes seculares e têm a continuidade garantida pelas gerações mais novas.

Dentre os folguedos mais representados, destacam-se o pastoril, o guerreiro, as quadrilhas, as cavalhadas, o boi de carnaval, os bonecos de carnaval, o coco-de-roda, o toré, a chegança e as baianas. Este último merece destaque por ser composto por senhoras da terceira idade que esbanjam saúde e vitalidade nos ensaios semanais. Além disso, elas se organizam para confeccionar as roupas usadas nos espetáculos e fazer outros trabalhos manuais que, vendidos, geram receita em prol da associação da qual fazem parte.

Marechal é também uma cidade extremamente musical; são gerações de músicos que levam à frente a veia musical existente nos moradores. É raro encontrar uma família deodorense que não tenha pelo menos um membro envolvido com a música. Os folguedos mais expressivos ocorrem normalmente nas festas populares como o Carnaval, São João e Natal.

Grupos vestidos com roupas especiais se manifestam cantando a representação de um drama e, ao mesmo tempo, dançando. Em suas manifestações registram-se claramente, a poesia popular, o artesanato, a dança, as alegrias e a música, caracterizadamente de domínio público.

Guerreiro

Esse folguedo é representado em Marechal Deodoro por um grupo infantil. Entre as personagens destacam-se: o rei, a rainha, mestre, contra-mestre, palhaços, entre outros. Suas roupas são multicoloridas, mas são os chapéus espelhados e cheios de fitas coloridas que representam a beleza e a riqueza dos trajes.

Toré

Inspirado em dança indígena, o toré apresenta indumentária em palha de coqueiro, com dançarinos enfeitados com diferentes colares.Normalmente as apresentações desse folguedo em Marechal Deodoro são feitas por crianças e, em seus singelos cânticos, pode-se conferir nas letras a identificação dos valores da cultura indígena aos valores da religião do homem branco. As apresentações ainda trazem instrumentos musicais, armas, arco e flecha.

Boi de Carnaval

A brincadeira de boi de carnaval é muito apreciada pelos deodorenses. O folguedo é composto simplesmente por um condutor e pelo boi, formado por uma armação de madeira e recoberto com tecido estampado e multicolorido. Os dois desfilam pelas ruas da cidade acompanhados de um grupo, em busca de dinheiro ou bebida.

Pastoril

Considerado um dos folguedos mais populares de Alagoas, o Pastoril é muito apresentado no período natalino. É formado por cantigas e danças religiosas, alusivas ao nascimento de Cristo. As dançarinas são chamadas de pastoras e dividem-se em dois cordões: o azul e o encarnado. São separadas pela Diana, que veste uma roupa metade azul e metade encarnada. O cordão encarnado é puxado pela Mestra, o cordão azul, pela Contra-Mestra, que tocam pandeiro e maracás.

Todo o ritmo é acompanhado por uma orquestra de pistão, trombone, clarinete, bombardino e bombo. A festa pede sempre a interatividade do público, que escolhe um dos dois cordões como o preferido.

Baianas

As baianas são grupos formados por figurantes femininos, vestidos tradicionalmente, que cantam e dançam ao som de instrumentos de percussão como o bumbo, o tambor e ganzá, com marcação feita por um apito que é usado pela mestra. Dança de enredo indeterminado, seus temas são circunstanciais e líricos.Em Marechal Deodoro a alegria e descontração do folguedo têm como integrantes as mulheres da terceira idade.

Quadrilhas

É a dança mais popular da região Nordeste. Todo o mês de junho se transforma num verdadeiro arraial, onde dançarinos se vestem de “matutos”, com roupas de chitas coloridas e remendadas. As mulheres com seus laços de fitas nos cabelos e os homens com chapéus de palha, animam as noites juninas.

Existem no município de Marechal Deodoro mais de 70 grupos de quadrilhas que, durante as festas juninas, animam as noites com muita alegria e forró.

Música

Os acordes que embalam cinco séculos de gerações

A musicalidade deodorense é uma coisa natural. Os nativos da região costumam dizer que, no município, as crianças já crescem com um pífano na boca. Exageros à parte, o fato é que praticamente todas as famílias possuem ao menos um membro envolvido diretamente com a música.

Essa íntima ligação com as artes musicais está exposta na quantidade de grupos oficiais existentes no município. Algumas filarmônicas e associações oficiais como a Banda de Pífanos “Esquenta Muié”, a Sociedade Filarmônica Santa Cecília e a Filarmônica Manoel Alves Santos representam essa riqueza cultural que passa de geração para geração através dos tempos.

No Encontro Nacional de Coros de Maceió (ENCORAMA), que há cinco anos acontece simultaneamente em Maceió e em Marechal Deodoro, a população marca sua presença anualmente para prestigiar os filhos de sua terra e apreciar os espetáculos ofertados. Este ano, além dos coros oriundos de diversas partes do Brasil, a cidade recebeu uma Tuna Acadêmica de Coimbra (Portugal) – grupo constituído por estudantes que tocam músicas tradicionais lusitanas, embalados pelos belíssimos acordes da guitarra portuguesa e pelo acordeom.